Ágnes Heller e a concepçao das necesidades humanas

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Julio Boltvinik Kalinka

Resumo

Este artigo trata de duas das três fases teóricas sobre as necessidades humanas (N), as quais Ágnes Heller tem vivido. Na primeira (aos 32 anos) escreveu “Teoria, práxis e necessidades humanas” (TPN) expressando a sua criatividade e radicalismo. Na segunda escreve, 13 anos mais tarde, aos 45 anos, Teoria das necessidades em Marx (TNM), sendo o estágio de maturidade que inclui suas obras bem conhecidas sobre a vida cotidiana. Nestas duas primeiras fases, Heller é totalmente marxista; na linha de Georg Lukács do marxismo crítico. A terceira fase corresponde a 1993, quando publicou “Uma revisão da teoria das necessidades” (RTN), aos 64 anos, quando ele deixou de ser marxista: “meu próprio ponto de vista filosófico tinha mudado lentamente, mas constantemente”, diz no mesmo artigo, para ficar longe até mesmo da versão modificada do ‘marxismo’, num sentido que poderíamos chamar de ‘pósmoderno’”. Devido a limitações de espaço, não é coberto aqui a terceira fase, nem dois aspectos importantes da segunda: o conceito de necessidades sociais e as necessidades do sistema de visão na sociedade de produtores associados. Na Introdução I faço uma análise e comento o Prólogo de Pier Rovati a TNM, quem enfatiza a centralidade do das N em toda a teoria de Karl Marx, incluindo a transição revolucionária. Ele também observa o caractere de rascunho incompleto do TNM. Da primeria etapa faço uma distinção das tipologías das N desenvolvidas pela Heller: existenciais e especificamente humanas, divididas em alienadas e não alieandas, e os tipos de práxis associadas com cada grupo das N. Das duas etapas falo das múltiplas insuficiencias e das percepções brilhantes de Heller. A partir desta primeira fase, a Heller já tem em mente o conceito de N radicais que serão fundamentais na segunda fase. Nesta fase, na qual escreve TNM, Heller tenta reconstruir as concepções e classificações de N em toda a obra de Marx, uma tarefa que encontra inconsistencias e ambigüidades, que juntamente com o caráter de rascunho de TNM, e os problemas de tradução, fazem complexa a exposição de Heller, e sua síntese impossível. Para o meu texto, comparei constantemente a versão em espanhol com a versão em inglês. A tentativa de Heller de reconstruir a taxonomia de N em Marx é falha, conforme destacado no artigo. Mas suas contribuições (não reconhecidas na literatura não marxista sobre necessidades) também são destacadas, por exemplo, a identificação empírica dos satisfatórios necessários e a formulação de uma tipologia de satisfatórios. No TNM, é muito importante a e da alienação de necessidades e sua superação. Heller acha que as N expressam tanto o lado ativo (capacidade) como o passivo (paixão) do homem. Faço notar que esta posição é semelhante  de György Márkus nas forças essenciais humanos (N e capacidades). O texto narra e intervém em discussões importantes: se é possível e necessário eliminar a distinção entre N e desejos; a alienação do N como alienação da riqueza humana; a discussão, com a qual eu manifesto o meu desacordo, de essência humana como um conceito axiológico único sem conteúdo empírico. Narro e discuto os 4 aspectos a partir dos quais Heller analisa a alienação das N: 1) relação meio e fim; 2) qualidade e quantidade; 3) empobrecimento (redução) das N; e 4) intéresse. O artigo termina com a análise do conceito central de N radicais que Heller analisa como um deber coletivo e como uma necessidade causal, baseada nas duas concepções de contradição que, segundo ele, Marx desenvolve: o Fichteana e a Hegeliana. Heller discute e analisa as antinomias de Fichtenan: liberdade-N, N- coincidência, causalidade-teleologia e riqueza-pobreza. Heller conclui esta análise dizendo que a concepção segundo a qual o caminho que leva do capitalismo ao comunismo seria uma lei de natureza objetiva, é incompatível com a segunda teoria da contradição de Marx, para a qual só a luta revolucionária do sujeito coletivo (a classe trabalhadora) constituído em virtude das N radicais, e a práxis revolucionária garantem a passagem para uma sociedade futura e sua realização. As N radicais, ele explica, é uma parte constitutiva do corpo social do sistema capitalista, que as produz inevitavelmente, mas impossíveis de satisfazer nele mesmo, e por essa razão, motivam a práxis que transcende à sociedade determinada. Heller analisa as N radicais do tempo livre e da universalidade, bem como a presença desse conceito em vários trabalhos de Marx. Nos Grundrisse, o conceito assume, de acordo com Heller, a forma deconsciência da alienação. Ele explica que as N radicais não são direcionadas para uma maior posse ou uma vida melhor, mas para a necessidade de transformar as relações sociais de maneira revolucionária e criar relações não alienadas.

 

Detalhes do artigo

Como Citar
Boltvinik Kalinka, J. (2018). Ágnes Heller e a concepçao das necesidades humanas. Acta Sociológica, (76), 45–87. https://doi.org/10.22201/fcpys.24484938e.2018.76.64918

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Biografia do Autor

Julio Boltvinik Kalinka, Colegio de México

Profesor-investigador del Centro de Estudios Sociológicos de El Colegio de México.